quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos chama atenção da Anvisa por parceria com Coca-Cola



A Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos publicou uma nota de repúdio à atitude da Anvisa de dar repercussão a uma ação patrocinada pela Coca-Cola Brasil. 


Você pode conferir nota na íntegra a seguir. 


NOTA DE REPÚDIO
A Frente pela Regulamentação da Publicidade de Alimentos vem a público repudiar a instalação de exposição sobre a campanha denominada “Emagrece, Brasil!” na sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ao abrir suas portas para esta exposição e incluir na programação da I Semana de Vigilância Sanitária no Congresso Nacional campanha cujo patrocínio exclusivo é de uma das maiores empresas de refrigerantes do mundo, a ANVISA adota práticas há muito tempo condenadas na área da saúde evidenciando um flagrante conflito de interesses e descaso com os movimentos da sociedade civil alinhados à ética e à equidade da ação regulatória estatal no campo da alimentação e nutrição. Os efeitos danosos do consumo de refrigerantes sobre a saúde humana e, em particular, sobre o risco de obesidade são incontestáveis. Igualmente conhecidas são as agressivas e abusivas estratégias de marketing utilizadas por empresas produtoras de refrigerantes, incluindo em particular aquela que, ironicamente, patrocina a campanha ‘Emagrece, Brasil’.

Causa-nos também revolta ler no ‘press release’ da exposição que ela ‘...está de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde para uma alimentação saudável e combate às doenças crônicas’. Isso absolutamente não é verdade. Em primeiro lugar, a campanha e a exposição enfatizam o ‘tratamento’ da obesidade quando a ênfase correta, sabem todos os técnicos do Ministério, sabemos todos nós, é a prevenção. O tratamento da obesidade, seja por meio de medicamentos ou de ‘dietas’, tem baixíssima eficácia. A mensagem principal da campanha é a de que você pode comer tudo o que quiser, sendo suficiente ‘contar’ as calorias que consome e ‘não deixar’ que elas superem sua necessidade de energia ou as metas que o levarão a emagrecer. Sabem todos os técnicos do Ministério, sabemos todos nós, que determinados alimentos (como os refrigerantes) aumentam o risco de obesidade exatamente porque suas calorias saciam menos do que as dos demais alimentos. O mantra ‘uma caloria é uma caloria’, que está na base da chamada ‘dieta dos pontos’ que orienta a campanha “Emagrece Brasil’, é verdade apenas do ponto de vista da termodinâmica.  Quando se trata de explicar a obesidade, é um completo equívoco, destituído de qualquer base científica. Uma das mais importantes revistas médicas do mundo, a revista Lancet, deixa isso claro em um número recente dedicado à epidemia mundial de obesidade.

A primeira ‘estação’ da exposição, que será exibida no edifício da ANVISA e depois no Congresso Nacional, mostra uma pessoa ‘devorando’ um imenso sanduíche feito com pão de hambúrguer. O texto da exposição explica: ‘A exposição usa o sanduíche como exemplo porque, nele, temos ingredientes de todos os grupos de nutrientes. E, assim, a oportunidade de explicar a importância de cada um deles para a saúde.’   Mais revolta, e, neste caso, não há necessidade de comentários: a impropriedade da campanha e da exposição fala por si. Há muitos outros equívocos do “Emagrece Brasil’, mas o maior deles, que não conseguimos compreender, é o apoio formal à campanha do Ministério da Saúde e, também, do Ministério da Educação e do Ministério dos Esportes.

A gravidade da epidemia mundial de obesidade e de outras doenças crônicas relacionadas à alimentação tem mobilizado governos nacionais e sociedade civil de diversos países na busca por soluções. Uma delas, já reconhecida como necessária pela Organização Mundial de Saúde, é a necessidade urgente da aprovação de um código de ética que regule a atuação das empresas de alimentos e refrigerantes. Ao tentar naturalizar o conflito de interesses neste campo, a ANVISA age em sentido contrário à defesa da ética e coloca em risco sua credibilidade na defesa e proteção da saúde dos brasileiros.

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