quarta-feira, 24 de abril de 2013

MISTERIOS DA INFUSÃO




Wilson Tubino

Eram lindos estes campos 
Bem antes da descoberta. 
O verde era como um manto, 
A pampa era toda aberta. 

Cercas, divisas, bandeiras 
Não existiam por aqui. 
E tudo isto era o reino 
De uma nação Guarani. 

Famílias se arrinconavam 
Por capões, planícies, serras. 
E, livres, se deslocavam 
Por toda a extensão da terra. 

Mas...quando haviam contendas, 
Entre as tribos co-irmãs, 
Se reuniam os caciques, 
Os feiticeiros, os xamãs. 

Se conclamava o conselho 
Ao pé do fogo-de-chão 
E...ali se discutia 
Pra encontrar a solução. 

O "itacuguá" sobre o fogo 
Aos poucos a água aquecia. 
E, num clima de respeito, 
Aos veteranos se ouvia. 

Então...o velho pagé, 
De uma combuca na mão, 
Tirava uma erva seca 
Triturada no pilão. 

E com ela preparava 
Uma misteriosa infusão, 
Que era chamada "caá-y" 
Na língua do povo irmão. 

O próprio Tupá ensinara 
A preparar a mistura 
Conforme diziam as crenças 
E os mitos dessa cultura. 

No "caiguá" se colocava 
A erva e a água quante. 
E a "tacuapí", que era a bomba, 
Completava esta vertente. 

Era assim que comungava 
O nosso povo ancestral, 
Unindo os seres da terra 
Ao plano celestial. 

E...enquanto os homens calavam 
Sorvendo a infusão bendita, 
Os ânimos se acalmavam 
E as guerras eram proscritas. 

É por isto que este mate, 
Esta silenciosa oração 
Nos faz tanto bem à alma 
Nos conforta o coração. 

Nos religando ao passado 
Sem olvidar o presente, 
Nos tornando mais fraternos, 
Mais felizes...Mais contentes. 

Por isto é que eu lhes afirmo, 
Com a mais profunda emoção: 
Que é Deus Tupá...que ainda fala 
Na língua do chimarrão

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